Itaipu, há 11 anos era simplesmente o nome de um projeto, distante, uma obra em Foz do lguaçu, que implicava no fornecimento de grandes máquinas.
A localização da obra era confusa para mim, será que as Cataratas do lguaçu também seriam atingidas ?
Porém, o destino estava traçado e, em maio de 1978, passei a integrar o "Grupo ltaipu" na Empresa para a qual trabalho. Correria, prazos inexoráveis, reuniões consorciais, toneladas de papel, correções, ajustes, mais reuniões e... finalmente a vitória ! Ganhamos o pedido, e o meu "casamento" com ltaipu estava selado.
De início um relacionamento distante, as partes se comportavam como lutadores no primeiro round de uma luta que, à primeira vista, parecia interminável. Mas, de contenda em contenda, rapidamente se desenvolveu a consciência do trabalho conjunto, a surgiu um verdadeiro relacionamento entre parceiros. Cliente a fornecedor se integraram numa equipe harmônica de trabalho.
Das discussões sobre o projeto a dos desenhos em duas dimensões foram surgindo, ainda nas fábricas, componentes em três dimensões, grandes, revolucionários em sua técnica, desbravando as fronteiras do limite das maiores máquinas jamais fabricadas no mundo - estava sendo ultrapassado o limite da audácia do homem - e isto aqui no Brasil, que já tinha a sua estrutura industrial preparada para este projeto.
E, no Paraguai, aonde fiz grandes amigos, acompanhei o surgimento de um complexo industrial capaz de fornecer componentes com o acabamento e a qualidade requeridas pelo projeto. O justo orgulho com o qual os amigos paraguaios acompanhavam os passos de seu empreendimento representava a consolidação do progresso deste País irmão. ltaipu pode, certamente, ser considerada a mola propulsora deste desenvolvimento.
Novos marcos foram sendo atingidos, também no campo do controle de qualidade. Níveis de ensaios, protocolos, certificados, tudo isto passou a compor um novo quadro na realidade nacional: o "controle de qualidade pós-Itaipu".
A necessidade de transportar gigantescos componentes indivisíveis gerou idéias mirabolantes como dirigíveis, helicópteros enormes operando sincronizadamente, ou transporte por mar a rio até o Rio Paraná; mas a solução escolhida foi a convencional, com os pés muito bem plantados no chão. Melhor dizendo, com centenas de pneus das imensas carretas transportadoras, os "trem-tipo", firmemente apoiados no chão. Os primeiros transportes excepcionais foram verdadeiras operações de guerra.
Carros moradia, batedores, operadores, mecânicos, acompanhavam as monumentais carretas, numa peregrinação de mais de 1000 quilômetros. Com o tempo, reduziram-se os prazos de transporte, agilizaram-se procedimentos, formaram-se "Doutores da Estrada", mestres dos transportes especiais
No canteiro de obras já havia lugar para receber as máquinas, a montagem já se havia iniciado, os componentes tomavam forma. Foi transportado o primeiro rotor de gerador para o poço da máquina. Duas mil toneladas suspensas por duas pontes rolantes acopladas ! Lentamente o rotor foi descendo para o seu local de operação dentro do estator do gerador. Um "buraco" de 16 metros de diâmetro interno a com uma folga radial entre rotor a estator de apenas 37 milímetros. Em termos relativos a montagem de uma unidade geradora exige uma precisão maior do que a de um relógio suíço! E isto com componentes de dimensões gigantescas. . . Centenas de pessoas acompanhavam, em absoluto silêncio, este momento de grande importância para todos os presentes. Quando o procedimento foi concluído com total êxito, não foi possível conter a emoção. Engenheiros, técnicos, barrageiros, homens aparentemente acostumados a situações semelhantes, irromperam em aplausos, transformando um procedimento que poderia ser puramente técnico, num dos
momentos mais inesquecíveis da minha atuação neste projeto.
Finalmente a primeira unidade entrou em operação. Itaipu, a Usina, cria vida própria, em seus barramentos flui energia, como se fosse um tipo especial de sangue, a seiva do progresso.
A vida agora está em todos os cantos: já se pode falar das gerações de ltaipu . Filhos e netos de barrageiros vão povoando Foz do Iguaçu com uma gente especial. São forasteiros trazidos pela usina, gente acostumada com o trabalho árduo a preparada para o sucesso. São aqueles que vieram a escolheram ficar em Foz do lguaçu, fazer desta terra seu lar.
Agora o projeto está chegando ao seu final, a muitas unidades estão em operação. Nas fábricas, o nome ltaipu começa a pertencer ao passado. Em troca, na Usina, a materialização das idéias, a cristalização do trabalho e a eternização da força de vontade de milhares de homens de ambos os países, molda um empreendimento que é um verdadeiro monumento vivo à competência, à integração de esforços a ao progresso.
Como deixar de me orgulhar de estar participando deste progresso ?
Como deixar de me orgulhar deste projeto ao qual já dediquei 11 anos de minha vida profissional ? Das dificuldades, das desilusões, das alegrias, das tristezas, do suor, das lágrimas, resultou acima de tudo, a satisfação pelo dever cumprido, pelo trabalho feito do melhor modo possível que, mesmo podendo ser comparado à contribuição de uma formiga na construção de um enorme formigueiro, também foi importante para a conclusão desta obra.
Orgulho-me de ltaipu sobretudo por sua realidade, sua atualidade, sua importância, sua projeção mundial e por ser um empreendimento humano.
"Mister ltaipu"
(apelido que carinhosamente
me foi dado por meus
colegas de trabalho)